Olá Amigos!

Vamos postar, comentar, escrever.

Vamos partilhar este Blog.

Postagens populares

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Obrigada!

Como é bom ter amigos! Amigos cachorros, amigos humanos... Amigos!... Este ser maravilhoso não é de outro planeta, é um ser terrestre que está entre nós. Vem chegando sem fazer estardalhaço, cautelosamente... Nos oferece as mãos, o coração e se instala sorrateiramente em nossa vida mais íntima, e, ao menor sinal de crise, lá estará ele: Zeloso... Atento... Silêncio... Com um olhar de consolo, uma lágrima ou uma palavra, revelando-se por inteiro e amenizando nossa dor. Desvendando o íntimo de nossa alma.
Gabriel Garcia Marques nos fez sentir a grandiosidade de ter amigos quando, sonhando com sua morte, escreveu em seu livro Doze Contos Peregrinos: “Morrer é nunca mais rever os amigos”.
Um abraço apertado e um muito obrigado por existirem.

sábado, 31 de janeiro de 2009

O Cão Bandido

O levantar tornou-se inexeqüível naquela manhã sem o Bandido a tristeza invadiu a casa como uma rajada de neve embranquecendo tudo, inclusive meus cabelos. A vida pareceu-me completamente sem sentido.
Quando eu abria os olhos, as seis da manha, ele já se encontrava de pé com seus olhos de jabuticaba, seu olhar fulminante e sua impaciência a flor da pele esperando que eu o levasse à rua para seu passeio matinal. O propósito dos passeios diurnos era esvaziar a bexiga e marcar o território do “macho” mais “fofo” da área.
Na semana que sucedeu sua morte foram os hábitos os carrascos que me torturaram e me levaram as lágrimas e ao recolhimento: Leva-lo na rua, forrar o jornal para seu xixi noturno, manter a vasilha de água permanentemente cheia, não esquecer a ração na hora certa...
Sei que preocupações futuras viram bater em minha porta fazendo com que eu reviva sua lembrança e sofra: dar banho uma vez por semana, levar para tosa de três em três meses, aplicar o remédio para afugentar os carrapatos, dar vermífugo de seis em seis meses e outras preocupações constantes que se deve ter com um cachorro saudável, quanto mais com um cachorrinho debilitado achado na rua debaixo de uma carroça com os dentes podres, pele ferida, infestado de pulgas e carrapatos e mais ou menos com sete anos, idade que, para um cachorro, já o tornava idoso.
Passear com o Bandido não era só um hábito em minha vida como também uma obrigação prazerosa, afinal ele, como “Bandido”, tinha de assaltar alguém e roubar um carinho, um beijo, dar um cheirinho, paquerar as cadelinhas gostosas de fitas rosa, e, com sua simpatia característica, fazer vários amigos e me permitir um deleite sem dimensões.
Tornou-se o centro da minha vida, integrou-se nela como o odor de um perfume raro que se entranha na pele e se faz presente, participou do meu cotidiano como um escravo pronto para servir o dono. Bandido conquistou meus amigos e os inimigos, familiares que, até então, não sentiam a menor intimidade com os cachorros. Foi roubando meu coração sem o menor pudor e, sem constrangimento, se apoderou do meu espaço como um verdadeiro “Bandido”. Obedecia sem reservas, sua carência afetiva o fazia único, seus olhos meigos e espertos nos faziam acreditarmos na humanidade e na rua, seu andar faceiro e elegante, provocava olhares e risos dos transeuntes.
Nos dias que antecederam a sua partida, ele foi ficando magrinho, suas costelas proeminentes me deixavam aflita e triste, a morte parecia inevitável. Para ludibrias o sofrimento e não deixar a tristeza me abater antes da hora, comecei a fazer um tipo de humor negro: dei-lhe o codinome de “Fiapo” e assim passei a chamá-lo.
“Fiapo” dos últimos dias e ex-bandido nos dias anteriores, mesmo com o coração fraco e muita falta de ar, não se detinha. Nos momentos de alegria pulava e brincava tanto que, às vezes, cheguei a pensar que ia perdê-lo ali mesmo, naquele momento. Seu coraçãozinho estava fraco, por um fio, e foi parando... Parando de bater. Não conseguia bombear devidamente o sangue, seu pulmão encheu-se de líquido e, na mesa, fazendo eletro, ele teve um enfisema pulmonar seguido de uma parada cardíaca...
“Fiapo”, “Bandido”, “Zafir” - não importa o nome nem o codinome! O cachorrinho que achei na rua deixou uma saudade, uma saudade tão grande que todas as manhãs me faz chorar e pensar que ele poderia estar ali me olhando.
Mas a saudade ameniza e, no final do dia, estou rindo com as lembranças dos quatro anos que ele passou em minha companhia, com as alegrias que me proporcionou e com sua transformação de menino de rua a moço de família.